Associado de Valor
Papelaria Livraria Popular existe há 58 anos, no centro da cidade de Bragança
“Sinto certa nostalgia pelo tempo em que as pessoas faziam fila para serem atendidas”
Há 33 anos que Maria Fernanda Antas da Silva Dias, hoje com 54 anos, trabalha na Papelaria Livraria Popular, uma casa que abriu na Rua Almirante Reis, em Bragança, no ano de 1963.
Maria Fernanda assumiu em 2015 a gerência do negócio que, como diz, vai dando para “o pão de cada dia”, mas que já teve tempos muito áureos. “Recordo com certa nostalgia o tempo em que ao chegar pela manhã, muitas vezes às 8h30, já tínhamos filas de pessoas à espera”, conta.
Bragança tinha mais população e muito menos papelarias. “Havia três papelarias/livrarias na cidade, hoje há 11 ou 12”, diz. A esta oferta juntam-se os hipermercados com secções dedicadas ao ramo, preços competitivos e, essencialmente, campanhas de marketing e publicidade agressivas.
A Popular chegou a ter oito funcionários a tempo inteiro, que tinham de trabalhar dia e noite para conseguir dar resposta à demanda e, em períodos de maior consumo, não conseguiam garantir um atendimento completo e célere. “Em período de Natal as pessoas escolhiam os artigos e tinham de deixar cá as encomendas para nós fazermos os embrulhos depois de encerrar, porque, mesmo sendo muitos funcionários, não conseguíamos dar resposta às necessidades de atendimento”, revela. Nessa altura, para além do material de papelaria, livros escolares e livros auxiliares, a Popular tinha uma oferta muito diversificada de jogos e brinquedos para crianças. Atualmente também tem, mas, uma vez mais, era a escassez de oferta que fazia com que a procura fosse grande.
Atualmente o consumidor, para além dos espaços comerciais físicos, tem a oferta que lhe é proporcionada pela internet, as compras online vulgarizaram-se e até nos livros escolares muitos consumidores optam por essa modalidade, selecionam o artigo, pagam e recebem a encomenda sem sair de casa, muitas vezes aproveitando promoções ou acumulando pontos para compras posteriores. “Neste caso nós temos editoras com quem trabalhamos, como é o caso da Porto Editora, a fazer concorrência desleal. A Wook é uma das nossas principais concorrentes na venda dos livros escolares”, acusa.
Mas nem sempre as compras online correm bem e quando isso acontece o consumidor dirige-se às livrarias da cidade. “Ou porque houve uma troca de livros ou porque não chegaram e depois vêm aqui para nós os podermos desenrascar em cima da hora”, diz.
Mas Maria Fernanda ainda tem clientes fiéis à casa há mais de 30 anos”. É o freguês que tem preferência por produtos de qualidade, que confia em quem sempre o serviu, quem conhece as suas preferências e o brinda com simpatia e atenção.
Neste período em que a pandemia afetou quase todos os negócios Maria Fernanda não se queixa, nunca teve de fechar e só por isso já se sente agradecida, revelando que não sofreu “uma queda acentuada nas vendas”. Alias, foi depois do desconfinamento que sentiu que a dispersão voltou, o aumento da mobilidade das pessoas faz com que se dividam por mais espaços comerciais. “O volume de negócio é baixo, mas é o que temos”, afirma quase resignada.
Particularmente neste período tem visto colegas de profissão, comerciantes, em grande dificuldade de sobrevivência, alguns até a encerrar. O panorama doi a todos e esta empresaria revela alguma tristeza por sentir que o comércio local, tradicional, não é valorizado como devia. “Uma cidade sem comércio é uma cidade morta”.
Se fecha uma casa comercial, desaparece mais uma montra, apagam-se as luzes de mais um espaço, morre mais um bocadinho de uma rua, de um bairro, de uma cidade.
Não há fórmulas mágicas, mas Maria Fernanda deixa escapar um desabafo em jeito de desejo e de esperança: “Era tão bom que as pessoas percebessem a importância de nos apoiarem, o comércio local precisa de ajuda e ajudando os comerciantes estão a ajudar a cidade”.