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Abriu no ano da Revolução dos Cravos

A papelaria Gomes abriu em 1974 e os primeiros tempos forma de completo infortúnio. A sorte mudou quando se tornaram agentes oficiais dos jogos da santa Casa da misericórdia, que até hoje são a principal fonte de receita.

 

Prestes a completar 92 anos de vida o olhar de António Maria Gomes, fundador da Papelaria Gomes, revela o entusiasmo de um idealista, que acredita na bondade da vida. Talvez tenha razão, porque mesmo não tendo ganho fortuna com o negócio viveu a paixão pela sua casa que só um verdadeiro comerciante pode sentir, que o leva dia após dia a passar várias horas na papelaria, na companhia da sua mulher, Fátima Rodrigues, já com 87 anos, e da funcionaria que nos últimos 22 anos tem defendido o negócio como se fosse seu, Margarida Teixeira.

Nutrem de enorme respeito e carinho uns pelos outros e talvez por isso contam com grande leveza as dificuldades porque passaram.

“Abrimos no ano da revolução e no inicio não vendíamos nada, às vezes ao fim do dia tínhamos 20 escudos na caixa, uma coisa de nada”, conta Fátima Rodrigues. Ela era funcionária pública e não foram poucas as vezes em que teve de retirar dinheiro do sue salário para pagar as contas da Papelaria. Na altura encomendavam os livros sem encomendas prévias, arriscando, como acontecia com frequência, ficar com os livros acumulados de um ano para o outro.

A juntar a esta incerteza do mercado, António Gomes “não sabia dizer que não”, conta a mulher. Vinham os viajantes a vender livros “e ele em vez de comprar dois comprava 200”, acrescenta. António Gomes sorri e garante que é “um exagero”, mas que revela bem o tal “entusiasmo” com que vivia o negócio. “Ainda temos no armazém livros desse tempo” remata Fátima.

O que veio trazer algum movimento e algum negócio forma os Jogos da Santa Casa da Misericórdia. Tornaram-se agentes oficiais, os primeiros na cidade de Bragança, na altura havia apenas o Totoloto. “Ainda hoje é essa máquina (dos jogos) que sustenta a casa”, refere a proprietária. Mas hoje a diversidade de jogos é enorme, com o grande sucesso das raspadinhas e do euromilhões, que entusiasmam os apostadores.

Antes de abrir a Papelaria Gomes António era mestre de oficina na tipografia do Patronato. A primeira ideia do comerciante era abrir uma tipografia, mas o investimento inicial era grande e a disponibilidade financeira pequena. Para além disso a ideia também não agradava aos responsáveis pelo Patronato que se viram contrariados com a perda do funcionário e ainda mais contrariados com a ideia de vir a ter concorrência.

Acabaram por optar por criar uma libraria, com o apoio de uma firma do Porto “a Firma Firmino”, que se dedicavam á atividade, tinham o conhecimento do negócio e ajudaram na instalação da papelaria.

Situada na Rua do Loreto, aos poucos e com a ajuda dos jogos, o negócio foi singrando. A rua tinha na altura uma outra centralidade e importância na cidade, ainda não existia a Avenida Sá Carneiro e o Loreto era uma das zonas principais na cidade.

O crescimento da cidade foi retirando clientes à Papelaria. A Sá Carneiro roubou o movimento ao Loreto e o surgimento das grandes superfícies comerciais trouxe um “forte amargo de boca” aos comerciantes. “Por exemplo neste último ano, fizemos as encomendas dos livros escolares, vendemos os livros, mas não vendemos praticamente nenhum material, o que não deixa de ser estranho”, conta Fátima.

A estranheza justifica-se facilmente: “Vão comprar o material escolar ás grandes superfícies”, remata.

O prédio onde está instalada a Papelaria Gomes é dos próprios, em cima da livraria vivem os proprietários, o facto de não pagarem renda tem sido crucial para manter a casa aberta. Uma casa que continua a ser a razão pela qual, diariamente, António e Fátima vão “para o trabalho”.

Fátima ainda atende os clientes nos jogos, António diz que só vai fazer companhia à Margarida, a funcionária que ali está há 22 anos, “a que controla tudo”, que tem total confiança dos patrões.

 

Atender com simpatia é o segredo para fazer dos clientes amigos

É com muito carinho que António e Fátima se dirigem à funcionária Margarida e, em tom de brincadeira, dizem que ela é que “controla” o negócio. “Eu ainda registo um euromilhões ou vendo uma raspadinha, mas se me perguntarem por um lápis ou um caderno tem de ser a Margarida”, explica a patroa.

Margarida sorri e olha para a patroa com um olhar envaidecido. “Faça eu o que fizer dizem sempre que está muito bem feiro, dizem que sou a melhor funcionária do mundo”, conta a funcionária que mais parece parte da família. “Eles é que são os melhores patrões, quer no pagamento, quer no tratamento, não há palavras”, acrescenta.

Margarida conta que já recebeu algumas propostas de emprego que nunca ponderou sequer, “porque não há lugar onde possa ser tão bem tratada”, justifica.

E como retribuição o atendimento na Papelaria Gomes é sempre de excelência. A simpatia e o sorriso contagiante da Margarida transformaram clientes em amigos, que tantas vezes passam por lá apenas para desejar um Bom Dia e trocar dois dedos de conversa.

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