Associado de Valor
RESTAURANTE GEADAS É UMA REFERÊNCIA DE QUALIDADE NA REGIÃO
Adérito Gonçalves tinha apenas 11 anos quando começou a trabalhar na área da hotelaria. Começou por transportar malas na Pousada de Bragança e essa foi a primeira grande escola que iria determinar todo o trajeto da sua vida profissional. Aí se manteve até ir para a tropa e, nesse período, foi crescendo e passando por todos os serviços, ganhando conhecimento transversal do saber fazer, saber receber e saber servir, até ser selecionado para fazer formação mais profissional na Escola de Hotelaria do Porto. Depois de regressar da tropa, sustentado na formação e na experiência que já havia adquirido, decidiu estabelecer-se por conta própria e aí começou a sua grande aventura. “Comecei por abrir um restaurante em Vinhais que se chamava Sol e Neve”, conta. Em Vinhais era conhecido por Geadas e foi essa alcunha que o inspirou para abrir um restaurante em Bragança, em parceria com o irmão. “O meu irmão não trabalhava na área, foi arrastado por mim e criamos a sociedade Irmãos Geadas”, continua. A empresa mantem-se até hoje nas mãos de Adérito e dos seus filhos porque, entretanto, o irmão decidiu iniciar sozinho um novo projeto, também na área da restauração. O restaurante Geadas abriu há 37 anos e rapidamente ganhou fama pela qualidade da comida e do serviço, mas não sem trabalho.
A mulher de Adérito, Iracema, que estudava no Magistério Primário, depressa percebeu que algumas vezes “havia stress” na cozinha e que o marido precisava dela. Inicialmente apoiava pontualmente o negócio, mas acabou por desistir do curso de Professora Primária para se dedicar a tempo inteiro ao restaurante. Foi substituindo o marido na cozinha até assumir o comando total, enquanto Adérito se dedica a coordenar a sala e o atendimento do cliente. Um casamento que resulta até hoje, em casa e no trabalho. “Onde houver produtos de qualidade eu compro”, explica Adérito, sublinhando que sempre foi lema da casa apostar na qualidade, desde a origem da matéria prima até ao serviço final. Este cuidado valeu-lhe o reconhecimento dos clientes e o Geadas passou a ser o restaurante de referência para uma clientela exigente, de classe média e alta.
O “RESTAURANTE” POR ONDE PASSAVAM OS GOVERNANTES
Não era o único, mas durante muitos anos o Geadas era o restaurante de passagem quase obrigatória para as altas figuras da nação que viessem de visita a Bragança, se calhar porque era um dos que conciliava melhor a qualidade da gastronomia com o requinte do serviço, transmitindo uma imagem de excelência da cidade. Nas memórias de Adérito Geadas permanecem dezenas de governantes e de chefes de Estado. “Ao Cavaco Silva fizemos diversos serviços, quer como Primeiro-Ministro quer como Presidente da República, mas houve muitos mais, Mário Soares, Jorge Sampaio, quase todos passavam por aqui. Num encontro venatório chegamos a juntar à mesa cinco ministros portugueses e dois espanhóis”, recorda. A empresa continua no top da lista dos restaurantes de referência em Bragança e continua a ser frequentado por uma clientela selecionada e exigente e a receber figuras de relevo. Mas o empresário opina que atualmente “não estamos a cativar turistas para a região”, apesar de todo o seu potencial, defendendo que o território, em conjunto, devia pensar e implementar uma estratégia de atração de visitantes e de maior mobilidade. “Porque quando há um evento de grande dimensão num Concelho, há movimento pelos concelhos vizinhos, vemos isso com a Feira do Fumeiro de Vinhais, por exemplo, nesses dias não ganha só Vinhais, os visitantes também vêm a Bragança”, diz.
OS RECURSOS CINEGÉTICOS ERAM MOTIVOS DE ATRAÇÃO EM BRAGANÇA QUE SE PERDERAM
Há alguns anos atrás a caça era razão para que os restaurantes da cidade de Bragança tivessem nos meses de inverno uma enorme procura, o que não se verifica atualmente, sendo o mês de novembro considerado um dos piores meses para a restauração. Os encontros venatórios que aqui se realizavam chamavam muita gente, atraiam amantes da atividade cinegética que acabavam por vir durante toda a época venatória. “De quinta a domingo a casa estava sempre cheia com caçadores”, diz. Nos últimos anos este importante recurso perdeu-se, ou por falta de organização, ou por falta de promoção, ou porque a caça também diminuiu ou até porque devido ao ordenamento cinegético foram constituídas as associativas que limitam a presença de caçadores de fora, ou se calhar por tudo isto, a caça deixou de ser um motor de dinamização económica, pelo menos em Bragança. Adérito Geadas lamenta que assim seja e refere que na sua cozinha continua a dar especial destaque a pratos de caça e pesca. “A perdiz a lebre, o javali, mas também as trutas do rio”, indica. E são estes pratos, diferentes, identitários do território que contribuíram para afirmar Bragança no panorama gastronómico.
SEGUNDA GERAÇÃO GEADAS MANTEM-SE NA RESTAURAÇÃO COM DISTINÇÃO
Adérito Gonçalves não gosta de se vangloriar com o sucesso que alcançou com a sua atividade e menos ainda com o sucesso que os seus filhos já alcançaram, conseguindo para o Restaurante G uma estrela Michelin. “Eu nunca condicionei os meus filhos em relação ao que deviam seguir, o que sempre lhes disse é que na atividade que escolhessem deviam ser bons profissionais”, conta. Ambos decidiram estudar fora, fazer o seu percurso académico, e ambos decidiram regressar à casa do pai, por vontade própria, onde cresceram e aprenderam a trabalhar, onde apreenderam os valores da humildade e da competência, que mantêm até hoje, apesar do sucesso que juntos já alcançaram. Assim cresceram e continuam a crescer com os seus projetos, que valorizam não apenas o nome da empresa Irmãos Geadas, mas o nome de Bragança e de Trás-os-Montes.