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Associado de Valor
31/08/2021



Há cerca de 75 anos que o Quiosque Rosa D´Ouro está instalado em plena Praça da Sé, historicamente o coração da cidade de Bragança. E é esta centralidade que acrescenta ao quiosque funções que não lhe competem, mas que os proprietários desempenham com todo o gosto: “Não somos, mas parecemos o Posto de Turismo local, os turistas vêm aqui perguntar todo o tipo de informações e nós respondemos com todo o gosto sempre que sabemos”, conta Ernesto Rodrigues de Jesus, que juntamente com a mulher, adquiriu este negócio há 21 anos. Alias, ao fim-de-semana, antes da pandemia, 70% dos seus clientes eram turistas, números que diminuíram, mas que pouco a pouco se vão compondo. “Isto vai melhorar, devagarinho, mas vai melhorar”, afirma.

Os jornais e as revistas, o tabaco e as pequenas lembranças da cidade são os produtos com mais saída neste espaço, mas com quebras muito grandes no segmento que dava mais lucro: os jornais e as revistas. “Agora com a internet e com as próprias televisões constantemente com notícias as pessoas deixaram de comprar jornais e revistas, a quebra foi muito acentuada”, conta.

São as gerações mais velhas que se mantém fiéis ao papel, que mantém os rituais de comprar todas as manhãs o jornal. “Ainda temos bastantes, os mais velhos criaram esse hábito e mantém-no, alguns no dia em que falham, nós estranhamos logo e sabemos que terá acontecido alguma coisa”, diz. São clientes há décadas, que visitam o quiosque diariamente, quase sempre à mesma hora, que têm o privilégio, sem nada pedir, de ter o jornal da sua preferência sempre guardado.

O negócio do tabaco, apesar de todas as campanhas antitabágicas, aumentou no quiosque e a explicação é simples: “Com a proibição de fumar nos cafés, com os cafés fechados durante alguns meses na pandemia, as pessoas regressaram ao quiosque para comprar o tabaco”, explica.

É bem verdade que o mundo está sempre em transformação, assim como os hábitos e as necessidades das pessoas.

Noutros tempos o quiosque era um espaço comercial onde se podia comprar de tudo, “do prego à pasta de dentes”. Funcionava diariamente até às 23h00 e era uma espécie de loja de conveniência onde se encontravam os produtos de uso diário mais frequentes, a escova de dentes, o gel de barbear, etc..

Com a abertura de grandes superfícies e o alargamento dos horários de funcionamento, as pessoas deixaram de recorrer ao quiosque, que necessariamente se adaptou à procura. Já não vendem produtos de higiene pessoal, mas são, por exemplo, prestadores de serviços, frequentemente usados para efetuar pagamentos diversos. “O Payshop trás cá muita gente para pagar as contas da água, da luz, as portagens e outras”, exemplifica.

Ao longo de duas décadas de atividade, a assistir pela pequena janela às movimentações da cidade, Ernesto tem observado essencialmente a quebra do movimento, resultante do decréscimo da população. “Perdemos muita gente e não vemos sangue novo”, lamenta. A observação empírica corresponde a uma realidade que as estatísticas confirmam, que é o despovoamento do interior, o envelhecimento da população.

Não há desânimo no olhar de Ernesto, há confiança, há a alegria de quem sabe que no comércio a readaptação é necessária.

Entre sorrisos repete: “Isto vai melhorar, devagarinho, mas vai melhorar”.