Associado de Valor
O supermercado e o restaurante “Restaurador” permanecem há mais de quatro décadas na mesma família, passando de pais para filha, que agora está no comando.
Mesmo no final da década de 70, José Daniel da Silva, atualmente com 74 anos, fundou a empresa Afonso & Silva Lda., proprietária do Supermercado e do Restaurante Restaurador, em Bragança.
Um projeto que abraçou com a mulher e que se mantém na família há mais de 40 anos, graças ao interesse e ao empenho da filha, Andreia Silva, que assumiu os comandos do navio: “Eu costumo dizer que o meu pai tirou o barco do porto e levou-o até alto mar, agora alguém tem de continuar a viagem”, refere a empresária.
Andreia cresceu “entre as panelas, os clientes e os funcionários” do restaurante, mas não se preparou para dar continuidade ao projeto dos pais.
Estudou para seguir uma carreira na área do ensino, ainda exerceu alguns anos, mas as constantes necessidades de mudança de cidade dos professores, trouxeram-na de volta a casa: “Sinto-me bem com a decisão, não estou frustrada, é aqui que quero estar e a preparação surgiu naturalmente do conhecimento que me foi incutido desde pequena”, afirma convicta.
O pai não esconde o orgulho, “se não fosse ela o negócio teria fechado ou teria passado para outras mãos”, conta. “Ela está a fazer ainda melhor que nós”, acrescenta José Daniel que agora goza da merecida reforma que, além de tempo livre, lhe trouxe a melhor das “responsabilidades”, ajudar a cuidar dos netos.
Em 1979, quando o negócio abriu, não havia o hábito de frequentar restaurantes como agora há. Para além disso, o Restaurador estava situado, na altura, nos arredores da cidade. Pouco a pouco, José Daniel e a mulher começaram a dar “o nome à casa” que se destacava, na altura, pela qualidade das Francesinhas.
“O segredo permanece o mesmo há 40 anos, usar unicamente ingredientes naturais de elevada qualidade”, revela. Ainda continuam a fazer o molho da mesma forma, respeitando a receita original criada em família e ainda há quem venha ao Restaurador com o único propósito de comer a famosa Francesinha.
Mas em quatro décadas tudo mudou e o negócio ganhou outra escala.
Os hábitos de consumo mudaram, atualmente há mais clientela porque ir ao restaurante é já um hábito de muitas famílias e também uma necessidade de muita gente que diariamente almoça fora de casa.
“Para além disso a cidade cresceu muito”, refere o fundador, tendo ganho o local onde estão instalados, na Av. Abade de Baçal, uma nova centralidade.
“Eu costumava dizer que ia à cidade, porque considerava que estávamos fora de Bragança, agora há muitos bairros à nossa volta e esse crescimento também foi bom para o negócio”, afirma.
Andreia acompanhou este crescimento, modernizou os estabelecimentos, o supermercado e o restaurante e continua a apostar na permanente mudança. “Quem tem uma casa aberta tem de se manter atualizado, acompanhar as tendências, porque a concorrência é grande, há sempre novas casas a abrir, umas com sucesso outras não, precisamos de acompanhar esta evolução”, argumenta.
“O dia em que apagamos as luzes”
É a filha que comanda o barco, mas sempre com o olhar atento e protetor do pai.
Ambos reconhecem que a pandemia da doença COVID-19, foi a maior crise que enfrentaram nestes 40 anos de atividade. “O dia em que desligamos as luzes, desligamos as máquinas, não havia aqui ninguém e não sabíamos quando iriamos regressar, foi muito duro”, recorda Andreia.
Para além do medo e de todas as incertezas do momento havia uma certeza: “16 funcionários para manter”. Não foi fácil, o volume de negócios diminuiu drasticamente e só não parou totalmente porque o restaurante continuou a vender comida para fora. “Não tivemos necessidade de nos reinventar, porque há 40 anos que o fazíamos, ainda nem se falava em Take Away. As nossas doses já estavam ajustadas, mas claro agora estávamos a vender só para fora, o volume de trabalho era muito menor”, refere.
A pandemia afetou de forma violenta a restauração, que vinha de um período áureo. “Os restaurantes estavam na moda antes da pandemia, havia uma afluência muito grande que se quebrou”, explica.
Aos poucos as luzes voltaram a ligar-se, as máquinas, uma após outra, voltaram a funcionar, os clientes começaram timidamente a regressar e ainda sem a pujança do período antes da pandemia, o restaurante voltou ao pleno funcionamento.
Das muitas histórias que a família tem para contar a pandemia é a mais dolorosa, mas há muitas outras felizes.
A felicidade sente-se dia a dia, ao rever os clientes que nalguns casos são amigos de uma vida, cuja ausência por dois ou três dias já é acompanhada de um telefonema para saber se está tudo bem.
Um negócio de família que não se resume a pai e filha, envolve todos os clientes que Andreia apelida de “patrões”. “São eles que decidem o nosso caminho, não basta abrir a porta, precisamos que o cliente entre, são eles os nossos patrões, quem decide se continuamos a trabalhar aqui ou não”, remata.