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“Bem falado” a expressão usada pelo Tio Artur que deu nome à casa

Uns conhecem o espaço por “Bem falado”, outros por “Tio Artur”, todos falam da mesma casa de petiscos que se afirmou pelas peculiaridades do dono e pela qualidade dos petiscos ali servidos.

Há 40 anos que nasceu a casa de petiscos conhecida por “Bem falado” ou “Tio Artur”, o comerciante que assobiava sempre que saía mais um petisco ou “charabanada”, uma mistura de cerveja com vinho que o próprio inventou.

Foi durante décadas o espaço preferido dos estudantes do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) e do ISLA, e a maioria levaram com eles histórias que ainda hoje partilham sempre que regressam a este lugar. “Todos tinham uma alcunha, o meu pai tinha a particularidade de fixar a cara de todos os clientes e atribuía uma nome a cada a  um”, recorda Alice Carpinteiro, filha do Tio Artur, que cresceu nesta casa que hoje gere com o peso e a responsabilidade de manter o bom nome que o pai conquistou e a qualidade que a mãe conseguia em cada petisco que ia à mesa.

“Os rojões, a orelha, a codorniz, as moelas, e a feijoada servida numa tijela de barro são os petiscos que nos distinguem”, afirma Alice garantindo que estas especialidades da casa têm sabores únicos. Na ementa também há pernil, alheiras e chouriça assadas na brasa, na lareira no meio da sala de refeições. “Do que a minha mãe fazia nunca conseguimos fazer igual o bacalhau frito”, reconhece, “apesar de muitas tentativas”.

Dizia o Tio Artur que a feijoada que ali se vendia era única porque “era feita pelo computador”.

O tio Artur partiu com 71 anos e manteve-se a trabalhar quase até aos últimos dias.

Ganhou a “alcunha” para o estabelecimento que construiu porque sempre que um cliente opinava sobre algum assunto ele respondia: “Bem falado”.

Era conhecido pelo seu caracter brincalhão e desafiador e ainda mais pelas expressões que usava, atualmente impressas em quadros que enchem de alma a sala das refeições.

Alice Carpinteiro conta que o projeto de vida dos pais foi desenhado e construído conforme as oportunidades surgiram. Retornados de Angola, chegaram a Lombo, Macedo de Cavaleiros, com a vida e a roupa do corpo. A família deu-lhes casa e roupa. A mãe arrendou naquela aldeia uma taberna e começou a trabalhar enquanto o pai trabalhava como carpinteiro, arte que aprendera na juventude. Souberam que em Bragança o município estava a disponibilizar terrenos aos retornados e aventuraram-se na construção da própria casa. “O meu pai construiu a casa à torna jeira, ele fazia trabalhos de carpinteiro e recebia trabalhos de pedreiro e assim foi erguendo a casa”, recorda a filha.

Era carpinteiro de profissão e tornou-se comerciante

Montou um negócio, uma serralharia, mas um problema pulmonar deitou por terra a oportunidade de seguir a arte e decidiu abrir um café. Pouco a pouco, graças à graça do pai e à habilidade na cozinha da mãe, o lugar começou a ganhar fama e mesmo estando situado nos arredores da cidade, numa rua em terra batida, tornou-se durante décadas num dos locais de referencia da juventude.

“Primeiro era só uma sala, a clientela aumentou e o meu pai abriu uma segunda sala e mais tarde uma terceira”, recorda Alice. Na sala de refeições boa parte do mobiliário foi construído pelo Tio Artur, “os bancos e as mesas” mantém-se até hoje.

“Limpamos as paredes, pintamos, colocamos ar condicionado, mas, na essência, mantemos tudo como sempre foi”, conta. Até quando necessita de comparar loiça, Alice procura o mesmo tipo de pratos e copos que sempre foram usados na casa. “As pessoas quando aqui vêm sabem exatamente o que vão encontrar”, argumenta, mostrando-se empenhada em manter intacta a identidade do lugar, como se assim continuasse a preservar a presença do pai.

No meio da sala de jantar um quadro com uma imagem pintado do Tio Artur, acompanhada por um poema escrito por um cliente emociona Alice sempre que o observa.

“É um orgulho perceber a importância que o nosso pai teve na vida de tanta gente, as palavras escritas neste poema dizem tudo o que ele era”, afirma.

Foi um dos clientes/amigos que fez a sugestão de dar o nome de Tio Artur à rua onde se situa o estabelecimento e assim foi, hoje a taberna do “Bem Falado”, situa-se na rua do “Tio Artur”.

Orgulho e responsabilidade

Alice Carpinteiro cresceu no “Bem falado” e ajudava sempre que podia. Casou e o marido, Egídio Poças, passou a integrar a taberna e é ele que tem assegurado a sua continuidade até hoje, com a ajuda de uma colaboradora, já que Alice, enfermeira de profissão, só ajuda pontualmente. Mesmo assim, consegue assegurar a confeção de todo o fumeiro que se consome na casa e até registou a marca “Fumeiro Regional Tio Artur o Bem Falado”, e comercializa para fora.

Foi uma maravilhosa herança, cheia de história e de estórias, “acompanhada da responsabilidade de manter a casa aberta e com a mesma qualidade”. Uma casa mítica em Bragança, que foi poiso de gerações de estudantes, um canto de amigos, recetivo às ramboias da juventude, onde sempre reinou a alegria e muito respeito.

Um assobio do Tio Artur punha tudo em ordem, acalmava os excessos e anunciava que mais uma rodada estava a sair.

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